Carta a um penseiro

Nada de conseguir dormir...

Deitada, sinto dor no peito; sentada, respiro melhor, mas aí, me dá fome. E não durmo. Ramon diz que é por causa dos reggaes do Candeeiro. Nada! Tô é ficando velha, isso sim... peguei uma gripe misturada com rinite que não passa! Imagina se eu tomasse os xaropinhos de Flávia, Lule e Buldog?! Aliás, como é que eles aguentam?! Aff!!!

Fui à cozinha, e catei umas folhas de agrião que ninguém come, a não ser eu. Juntei com um tomate e as sobras de um patê que fiz pro réveillon. É, agora eu sou dada a culinárias... ou quase. Coloquei milho verde, azeite doce, porque ainda tenho manias lusitanas, e espremi um limão. Ficou meio azedo, resolvi acrescentar um pão de leite. Ficou bom, ficou razoável. Você diria que não come mato, e lembraríamos daquela mistureba doida quase amanhecida, eu você e Lule. De que reggae, não se sabe. Mas foi a melhor comida que poderíamos ter feito. Sucesso! Lule tem a manha, não é verdade? Dias loucos e incríveis.

Saudades. De você, dela. Do tempo em que tomar umas dava poesia pro Penseiros. Começo bom, bom começo.

Essas viagens, e esse povo indo pra longe. Está na moda, está na época dos amigos irem pra Europa, pra Austrália, pra Londres, “trepar” em irlandês. Como é que pode?! E você, que resolveu entrar na moda, entrar pras estatísticas, miséria?!

Rapaz... você parou a cidade! Não, assuma: tinha se visto assim, tão popular, tão bem quisto? Ah, um Viana, claro! Ainda assim, ir embora desse jeito foi sacanagem. Tô pirada, ainda não te perdoei. Mas um dia terei que fazê-lo, porque você é assim. Só faz o que quer. Sacana! Por isso que Flávia vivia te mandando tomar no cu. Te mandei algumas vezes também, depois disso. Mas depois, obedeci. Fazer o quê?

Ah, mas tenho boas novas! O Candeeiro Urbano, que estava inativo, ativou, com força! Seu vereador, que agora é meu também, nos reuniu e nos convidou a cuidar do Novembro Negro. No início, pensamos que seríamos apenas uma ajuda. Po-há-nen-hu-ma!!! Fizemos tudo! E você, com certeza, está orgulhoso... tentamos fazer tudo do seu jeito: Adri, Tainana, Crislane e Darlene tiraram as fotos que melindraram até o prefeito, veja só! “Negro presente em tudo que vejo”. Bibo arrebentou no design! Juninho, Beto, Carla e Jr. Negão me saíram excelentes palestrantes! Todo mundo queria ver um pouquinho dessa galera que faz aula diferente. Jérssica fez um monólogo incrível, com aquele texto sobre o filho de Deus ser loiro, de mainha. E eu me vi, de repente, a ter que estudar tudo, de vento em popa, sobre os pretinhos: virei militante! Até no trio tive que subir! Organizamos as palestras nas escolas, e emocionamos muita gente, falando de igualdade e luta racial. Comprei briga com um monte de amiga alienada, que dissemina o mito da democracia racial, seja por ignorância, seja por descaso... e ando vendo racismo em tudo, quem diria! Dequiane me ajudou! deu uma boa baixa pelo facebook. Ela e Waneska! Miseráveis! Isso mesmo! Quem Cláudia Leite pensa que é?! Oxe!

Trouxemos pra Cidade do Saber uma peça incrível, e acabamos criando até um grito de guerra: “Zumbi!” seguido de palmas. E risos. Bestas que somos, buscando produzir alguma coisa, direcionar a nossa saudade pra algo bom. Chega de ficar bebendo você em Bin o tempo todo... agora a gente se reúne pra pensar em cidadania, pré-vestibular, palestras, cursos de formação. E muito mais! Tem é gente envolvida, e mais e mais querendo se envolver, beber um pouco dessa nossa fonte de loucura inesgotável chamada vontade de mudança. E, acredite! O nosso curso, sobre comunismo, saiu, brother! Carla convidou um professor marxista do IFBA pra nos dar uma aula. Ele é bom, fantástico. Mas, sabe o que eu acho? Ah, ele só arrumou mais bonitinho o que você sempre disse. Tudo o que ele ia dizendo eu pensava: “Vinícius me disse isso! Ele me disse isso!” Você é mesmo muito foda.

Acredita que até Waneska nos deu curso de formação sobre os pretinhos? Rapaz, ela é incrível! Linda, inteligente... muito fofa. Vou votar nela! E você nem sabe: passamos juntas na seleção de doutorado! Fizemos até um reggae, batizado por Beto de “Doutorado Fest”. Veja, se tem cabimento... tudo é motivo de festa pra esse Candeeiro, que mais é uma família de amigos, meio perdidos, meio saudosos, tentando encontrar o sentido das coisas. Comendo água, é claro. Abrindo e fechando os trabalhos!

Temos muitos planos pra esse novo ano, e isso inclui a nossa “Aula Show”. Mas não se preocupe, o Penseiros é outra coisa. “E ainda existe?” você me perguntou uma vez. “Ah, meu amigo... nunca deixará de existir! É o nosso projeto de vida”, te respondi. E estamos aqui pra incomodar, não pra facilitar, como diz Lule. Eu sou a onda, bicho! Nunca paro (Só quando a rinite ataca...).

Todos sentem muitas saudades! E todos dizem “olá”, e me pedem pra dar o recado pra você. "Ah, até parece que esse sacana vai me ouvir..." eu, que me achava uma amiga especial, vejo todo dia surgir uma nova filha, um novo brother, uma história nova, desconhecida. E fico enciumada, você sabe que sou dessas. Depois relevo, porque o amor tá aí pra isso! Que se há de fazer, se você é todo dado?! E ainda dizia que queria “desconhecer”. Francamente! Um puto, isso sim...

Tenho muitas outras novidades! Queria até falar de coisas íntimas. Mas amanhã tenho aula, embora seja janeiro e eu seja quase uma doutora (o atlas vai sair, brother!). É preciso ganhar algum, e eu não posso mais ser a mesma notívaga de antes. Tenho até gostado mais, sabia? O mestrado me deixou mais confiante! Só não consigo ser atriz. Continuo sendo muito séria, embora tenha conseguido até comer água com meus alunos. De leve... “Pense que eu cheguei de leve, machuquei você de leve...”.

Te escrevo na próxima lua cheia, ou na unha de lua. Ficaria surpreso de ver quanta gente lembra de ti nesses dias. E haja poesia. Ai, ai, Vinícius...

Amo você.

Nada de mil perdões, seu sacana. Fica bem.

05.01.2012.

03:54. Verão. Abertura diferente. Josi, viajando adoidado! Zé Beautiful, menos chorosa, mais tolerante (ou nem tanto). Da Musa, nunca mais tive notícias. Juninho, vagabundo, agora namora com a menina do rabo imenso! E tudo continua do mesmo jeito. Ou quase...

Comentários

  1. "Meu caro amigo eu não pretendo provocar
    Nem atiçar suas saudades
    Mas acontece que não posso me furtar
    A lhe contar as novidades..."

    Thais, você é foda!
    Escreve tão bem, que quase ouço a sua voz.
    Detalha tão miúdo que me sinto entre esses dias, em que não estive... (de candeeiro)
    Não pense vocês dois (sim, você e esse sacana), que porque estou por longe não penso em nossos dias, não tenho saudades, não tenho vontade de estar mais perto. Enganam-se, se pensam assim.
    O verão jamais será o mesmo. Eu não durmo mais no céu. Quando vejo a parte do DVD onde Chico diz rindo da loucura que foi a apresentação da maquele dele em relação às dos amigos, em vez de rir como antes, eu choro. Por Bin, eu passo e nem olho. A saudade me acompanha a cada dia, desde aquela despedida.
    Mas, como disse ele: Bonequinha, eu preciso ir. E como diz você: Obedeci, fazer o que?
    Parabéns a todos do Candeeiro que resolveram tranformar essa enorme saudade abraçando uma causa pela qual lutava o nosso amigo. É isso aí.
    Minha amiga, seu texto está lindo, cheio de amor e emoção. Imagina como estou agora né? Você já me conhece.. nem vou ler de novo, senão a urticária ataca.

    "No dia de outro tempo,
    Desmonte do pensamento,
    Surpesa em vermelho falhante
    De mulher mutante..."
    Vinícius Viana

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  2. Ai, que lindo. Fiquei super emocionada com tantas palavras. Mas é isso, fica na saudade, esse homem incrível. E fica também na vontade, de ter ele aqui com a gente, dividindo esses momentos divertidos.
    Merda! pra que você foi embora?

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  3. Ai, Josi... agora quem chorou fui eu! Você é foda!... lebrei agora do DVD. Eu choro tb, mas rio, lembrando do riso largo dele. E da gente , na madrugada, vendo Chico e dizendo: "Oooohhhh, é possível!!!" kkkkkkkkkkkkkkk...
    É muita saudade.
    De você, dele, de nós.
    E ele fica assim, muito presnte, nas nossas lembranças, no nosso afeto, no nosso inconformismo, na nossa saudade.
    Amo você.
    E, Cris, quem disse que ele foi embora?

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  4. É incrível, quando a gente pensa que saudade é só nossa e que ninguém lembra mais desse mestre. E nos deparamos com um texto desse.
    Ele não foi esquecido, e talvez nunca será! Sempre alguém vai recordar, e repassar as proezas desse boêmio.
    A saudade aperta, machuca, doí! Ainda tento procurar explicações, mais prefiro pensar, ele era muito bom pra está aqui.
    Enfim, saudades de sua filha.
    Lívia Viana - http://www.facebook.com/profile.php?id=100001927814752

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  5. Ta vendo que vocês não se relacionam bem com a oposição de pensamentos?! Acabou de excluir meu post.

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  6. Caro Anônimo, seja lá quem for:

    Esse blog é pessoal, e seu objetivo é transferir para o mundo os pensamentos, anseios, dúvidas, lembranças e questionamentos, ou o que quer que seja, de alguém. Logo, tudo o que for julgado indevido pela dona do blog, no caso, EU, será retirado. Ou não será autorizado.

    Os seus comentários não dizem respeito à carta, à poesia, à homenagem, e sim, buscam a depreciação e deturpação do que aqui expus. E, pior: ao trabalho de um grupo de pessoas.

    O Candeeiro Urbano não tem qualquer participação neste blog, que, repito, é absolutamente pessoal. Logo, os membros não devem ser acusados de fazer política, de "idolatria", ou de "as apresentações estarem muito abaixo das propostas".

    Acho, inclusive, lamentável a sua inciativa de julgar quaisquer que sejam meus objetivos, principalmente por fazê-lo de forma anônima.

    A propósito, caso eu decida, posso postar, se eu quiser, fotos de políticos, de escritores, de músicos, trechos de jornal, falas de pessoas, enfim: nada pode me impedir, a não ser a minha livre consciência, que de nada me acusa.

    Posso decidir fazer campanha pra este ou aquele candidato. Posso falar mal ou bem, fazer meus julgamentos. Sou livre o suficiente pra isso.

    Espero que, da próxima vez, suas colocações sejam mais pertinentes, e mais relevantes. Aí sim, serão muito bem vindas.

    A propósito: reveja e revise o seu texto. Como professora muito bem titulada que sou, posso falar disso com muita propriedade. Há erros no uso de vírgula! Sobre isso, ou sobre assuntos de gramática, literatura, redação, podemos discutir.

    Política, talvez, mas não é o caso.

    Sobre minhas escolhas pessoais, não.

    Thais.

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  7. Vinicius tu que já nasceste no plural! não há nenhum dia que tu não apareças na minha memória. ainda não consegui escrever nada pra você.

    A vida nos deu um presente! ( no dois sentidos da palavra)

    E se hoje fosse outro dia Zé beautiful?

    Mana texto lindo!

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