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Mostrando postagens de agosto, 2013

BALANÇO

Saudade do tempo em que eu te dizia orações, todos os dias, antes de dormir, ao longe.  Você não se ia. Por mais que eu te ame, por mais que eu te deseje e sinta a sua falta, meu amor é outro. Jamais serei a mesma. Você levou meu melhor tempo, meu maior sonho, meu futuro de planos. Hoje, tudo que tenho é prático, tudo que vejo se conta. Prós e contras. Não caibo mais em balança desigual. O tempo dos amores se foi.  Caio na real: você jamais será meu de novo. Poxa... mas sonhar você era tão bom! Que vida tenho? De que viveremos? De caminhadas duras e de cinzas. E não se pode lamentar, tampouco há o que agradecer por isso. Apenas foi, passou, perdemos o barco, pegamos um navio. Ou foram aviões, de tão rápidos? Mal vi o caminho, nem sei da viagem! Se pudesse, recuava, te roubava, descíamos juntos, em pleno voo. Não perdia a sua mão. Nunca tive coragem pra ultraleve, asadelta, paraquedas. Preferia que estivéssemos quebrados. Ainda dói!  Defeitos irreparáveis, troc

DEPOIS

E a lua está tão linda, redonda, imponente, amarelada E não há nada de diferente nisso. Nem as unhas. E há também a noite, como todas as noites, cheia de estrelas E frias, e minhas. E há também as nuvens, e as chuvas, E mesmo quando elas se vão, Ainda assim, elas sempre estão. Estarão. E amanhã, também, haverá o sol, E há um biquíni novo. E pode ser que não dê praia, Não tem problema, mais cedo, mais tarde, dá. E todo mundo vai ao sol Não importa quem seja todo mundo Nem em que ano estamos. E outros amores serão vistos E outros casais serão de outros E haverá sempre uma mesma música E se verá novos amigos, novas cores, Novos beijos. Ainda que não seja o mesmo tempo, Sempre há de haver rumores E verões flores e  luas E tudo há de acontecer ainda. E tudo permanecerá igual Tudo continuará acontecendo E tudo acabará indo E vindo. Só tu, não. Gilda. 24.08.2013.

ACHARES

Sabe o que eu acho? Eu consigo conviver com isso por muito tempo. Isso de faltar o ar ao ver o seu perfume sutil por entre os meus pés colados, imóveis e ímpares. Eu consigo sobreviver a dias e dias e vazios de fome sem você. Essa casa, tão grande, cheia de sombras e vultos, todos seus, a rir e a praguejar um futuro triste e sem paz. Eu? Ah, posso acordar no meio da noite, por todas as vidas que acordei sem ti, suando e chorando o medo de não mais ser lembrada em versos que jamais serão meus de novo. Posso ser, cantar outra música, outra doçura de um prazer inato e sutil, tão inerente a nós, e ao que teremos sido um dia. Deus sabe, prova cabal e fiel, de que poderei caminhar por mim só, trôpegas pernas, ainda que seja por um motivo frustrante e sem natureza alguma, por tanto e tanto tempo... Sim, subirei ao altar, ainda que seja um altar triste e sem ti. Mas vou. Posso me ver entre as nossas paredes, jornais, imagens, sorrisos e rabugentices p

UMA CARTA INSENSATA

A todo o tempo, se eu pudesse, escreveria algo. A minha cabeça está o tempo todo pensando num novo fragmento, sobre um monte de temas e assuntos. E em tempos de perdas essa minha vontade de escrevinhar coisas fica mais aguçadinha, e eu só queria que isso desse algum dinheiro, mas não. Serve, e muito, pra dar uma desafogada nos quereres e nas saudades. E só. Sim, porque são muitos! Alguns doem mais, outros, já nem tanto. E tem os de sempre, os de todo dia. E a minha sensibilidade hoje me aguçou pra umas lembranças boas. Trouxe umas imagens de um tempo que poderia ser trazido de volta se houvesse mágica capaz. Por mim, traz, com menos idade e mais chocolate, e um quê de madrugadas, insônia, sexo e tudo. Foi um tempo de escolhas puras, e de coração entregue como jamais será novamente. Pois é, eu não tenho mais vinte e poucos anos... Um dia me chamaram de poeta da saudade, e eu não tinha entendido se era elogio ou crítica, mas importa que coube, encaixou, porque eu vivo e morro sent

O SONHO, O AMOR

Hoje eu te vi num sonho. Não foi nada comum. Foi um sonho do passado. Eu estava no seu passado, mas eu era dos tempos de hoje. E eu sabia. Mas, por algum motivo, por alguma graça, me foi concedido voltar. E te ver. Eram outros séculos. Outra casa, outra vida, outras pessoas. Que tempo era aquele? Em algum momento, pensei ser o século XVII ou XVIII, porque me vi com vontade de vestir aqueles vestidos pomposos, cheios de espartilhos e meias. Eu me preocupava com isso, porque ninguém podia desconfiar do meu tempo. Queria estar inserida, pra que, principalmente você, não percebesse que havia algo errado. Mas você ainda não tinha surgido. Me vi numa casa grande, antiga, colonial. Era uma casa boa, tinha muitos cômodos, muitos vãos, criados. Não era a Bahia, era o Rio de Janeiro. Você morava nessa casa, com seus pais. Havia muitos amigos que frequentavam esse ambiente. E era também perto da praia, como se fosse o centro da cidade. Tudo muito antigo, um Rio que eu não conhecia. Tudo

VISITA

Uma borboleta, no meu quarto, a essa hora? Bem se vê. Está mais insone do que eu. Mas por que, se tens o seu céu? Se tens o voo das luas pequenas? As pessoas sofrem. Eu morro. Um dia a mais, uma dor a menos. Está tudo bagunçado: há um quê de fora de lugar, minha cara Estás longe das asas diurnas! Temos o mesmo desencontro De mãos e patas de apertos vãos Tenho fome de manhãs lisas E de madrugadas melhores E tu? O que é de comida? Acaso me trazes algo Ou tenho eu que repartir o pão que não tenho E a água que perdi? De azuis e furta-cores também se constrói uma casa triste. Se sobrevivermos a hoje, será um milagre. Gilda.

O MURO

Putaria de vida, isso de merdas e escolhas. Sabe, esse andar em círculos já me encheu, já deu. Não quero mais me sentir assim , meeira, meio lá, meio cá. Não vê que não estou em lugar algum?! Já é hora! Anda! H ora de cortar, radicalizar, parar de cair, de recair. Senão... não passa. Volta. E hoje eu me vejo nessa angústia voraz, com medo e tudo, sem luz e nada, minha respiração mal sai. Peço o ponto. Eu fico na próxima rua, naquela esquina, diante do meu muro labiríntico, anedótico, dual, cinza. Estará roto? Apois. Nessas horas, as cores se esvaem. Hora de que, doutora? Dia de monte, mês de anos, minuto de lágrima. Suspende! Engole! Já é hora! O murro nem dói, nem sei se bati de novo. Eu nem caí! Eu andei? Por onde fui dessa vez?! Que lugar é esse? Acordo. Me vejo, sou um se, de frente, olhando pro alto. Dou um pulo, trepadeiro, busco uma nova sacada. A próxima vai longe... há de vir, antes, a droga de cura. Doído, sem sabotagem, cheio de necessidade e âns