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Mostrando postagens de fevereiro, 2013

Limpeza, ou um fragmento para a Saudade

  Preciso de uma faxina na vida, nos dias, no dia-a-dia. Não há como partir para parte alguma, lugar algum, então, é preciso limpar tudo. Das coisas que ficaram, me sinto leve, às vezes. Ainda assim, justo agora, tenho que esvaziar os vãos, as cômodas, os lustres. Preciso me desfazer das cortinas, das toalhas, das lembranças. Por que a dor, se não sou Valente, se nem era verdade, se não era pra ser? Deixa estar, quando for de tirar o peso, o resto, me levo sem suor, sem apego, sem rancor. Espero sim, minha amiga, mais de mim, aí, sim, futuros de poesia e par, sonhos de maré de novo. Por enquanto, vou indo de limpeza, tirando tralhas de sujeiras alheias. Nada disso é meu. Espero, livre, por ti, Saudade, isso de falta dele não é viver. Não se deve insistir, um dia ele volta, ele chega, e tudo terá um sentido de antes, do novo, do viço. Porque de saudades sem mágoas vem a pureza, a fé, o pensar num porvir de amores. Vou deixar tudo um brinco, quero que se orgu

Um indo de solitude

Pois é no hoje, num dia de baixa entre direções, noites de volantes, segredos, tentei, bem sei eu, e me mantive longe evitar é sempre bom mas não quer dizer bem Falei frases irreais, contextos de mentira acaso sou um lixo atômico atônito?! De onde, então, esses buracos velhos, Esses fundos Aqueles medos? Fé,  crença, dança isso nunca foi pra mim Em noites altas Sou das  frustrações abobadas de tentativas vis sou de loucuras etílicas dos jeitos  virotescos das amizades juvenis Não há quem suporte só há quem se importe lamente de mim, as coisas ruins Me estranho, em horas de fendas cálidas dias de mentirosas, as ilusões Por que a crença no tempo, nas luas, nos minutos? Olho, cadê que me enxergo? Nada. Cansei, não tenho como terminar Preciso me jogar fora Ainda restaram pedaços, Tenho que catar-me, desiludida. É por aqui. Gilda, 21.02.2013.

Queda livre

Fragmentação... É nisso que dá alimentar-se de saudades virtuais que, de tão reais, ainda me estremecem e suspendem a minha respiração.  Ah, francamente! Não eras tu que já apregoava e bradava rios de racionalidade e lucidez? De onde vem, então, todo esse ferver de pensamentos, sonhos e ideias de antes? De agora? De nunca esquecer? É muita saudade.  Dessas que me faz ver placas e contar números em zeros de provas em vão. Que me trazem, em sonhos, angústias e apertos que, no cotidiano, nem parecem doer. Adormecer até que é bom. Dimensão plural, atemporal; lá, posso sentir-me sua, sentir-me amante, viver de amor.  Querer aquela conversa que nunca aconteceria aqui.  Fazia um tempo bom enquanto pensava nos verbos futuros do pretérito. O nosso tempo tem esse nome agora. Está onde sempre quis, não onde eu quis.  Pré-rotinas, relatos.   Inglês, francês, gestão, docência. I’m training and practicing my disabilities how to forget you. Treinando

Sobre mim e Gilda

Ser Gilda, senhora, digna, ora, pra quê? Ficar engolindo esses relâmpagos, essas farpas de ferro, essa rotina tão ruim?! Cansada de pernas firmes que mal se aguentam em pé. Não passo de uma mentira, uma ilusão, um sopro de poesia. Nem fingir sei. Que se vão os bailes, todos, porque eu não sei dançar cordas e liras de felicidade. A diferença está no não-sonho. No não-sono. Veja bem: pesadelo é outra coisa, mas é preciso receio dos olhos fechados. E o medo é esperança de sonhos bons. O que eu sinto só vejo quando abertos os olhos, aberto o peito, abertas as chagas. Velhas, novas, pueris. Tudo dói. Não vejo porque ser Gilda. Gilda é saudade transbordante, olhar pequeno, brilho de madrugadas matinais. Sofria, bem se sabe, mas sonhava. Seu coração acredita no amor do ainda. O meu, no ainda das mágoas. Não me olhe agora. De olhos abertos, nada de amores tenho a dizer.  Choro, às vezes. De tristeza também se canta um amor indigno, insano e infame.

Tempestade

Ah de ser, De   se fazer feliz Algum dia Sem chuva Sem trovoada E com muita estrela Raio, corisco e trovão Nada de nuvens de penumbras Banais Nem de chuviscos, meros momentos Desiguais Há de vir uma torrente Um lamento E uma saudade Fortes Um amor desvairante, desvairado impacientemente viril Mas não me venha agora Com guarda-chuvas Nem botas ou capas É hora de se molhar Que venham as nuvens. Gilda Valente, 16.02.2013