Meu nada novo ano ou eu gostava mais da gente antes

Eu gostava mais da gente quando eu podia te contar tudo. E quando a saudade era só um lapso, um "até mais" passageiro. Sem até breve.

Ia te dizer do meu hoje, e saber do seu ontem, nessa troca tão cúmplice, tão nossa, tão da vida e da rotina.

Eu pensava que era pra ser, que era pra sempre. Que era coisa de um, que o tempo não mais nos diria nada, porque tudo já estava tão dito e feito, e a vida já tinha encontrado o seu lugar, eixo sobre eixo.

Acho que me enganei. Calculei, calculamos mal. Agora que desandou, está tudo uma merda, e eu estou bem perdida, eu não sei o que fazer, o que dizer, o que pensar.

Me perco em vontades e pensamentos. O que mais posso te dizer?! De repente abriu um buraco, um abismo, e eu nem te conheço mais; balanço a cabeça, pois quis o mundo cair em cima de mim, justamente agora, no meio desse céu. Te levar, justo você, e deixar esse outro aí. Cadê João?

Ou então, eu enlouqueci. Quando nada foi real, você nunca existiu, eu me joguei demais e caí. E agora estou eu, aqui, toda ralada. Me vendo assim, baleada, amputada, cheia de versos doloridos, como no ouvir das nossas músicas bestas de réveillon.

Tá doendo tudo, tá doendo muito. Eu já nem sei mais como respirar. Nem tenho o que comer, não sei pra onde ir com isso. 

I'm so lost. Só.

Dizem que passa, dizem que não mata. Aleja um pouco, bem verdade. Mas, disso, ninguém morre. Ninguém nunca morreu. Nem eu.

Esse vendaval de novo... "tudo ao mesmo tempo agora", como você diz às vezes. 

É muito difícil sobreviver a esses dias, essas inexplicáveis ausências. Nas conversas ditas, ficou tudo às claras, e as conclusões e decisões foram pensadas, fumadas até. Mas não. E é no contar das horas que esse turbilhão fica vindo, e indo, e nele vem o seu nome na porta do banheiro, junto com as letrinhas de Marina. Vai o bom dia de um outro dia, porque no hoje você nunca mais veio. Vem Marina correndo pra segurar sua mão no descer das escadas, Benício do outro lado, e eu, logo atrás, rindo. Vem a piscina, prestes a fechar, mas eu salvei uns minutos, e você, as fotos. Vai Iasmin com meu livro favorito, essa você ia gostar de ver. Vem Bento chamando a Mamá, todo pretinho e risonho. Vai uma mensagem meio boba, porque, sim, eu parei e pensei um pouquinho em ti, antes que pergunte. Vem o nosso dia lindo de janeiro, cheio de chuva, gravetos, cachorros, Geraldinho, Zeca baleiro, Chico Science, o Buarque e não sei mais quem, e as nossas crianças. É todo mundo bem vindo. Vai essa distância no silencioso passar das horas. Nisso, Marina acordou me chamando e, dessa vez, uma série doida me faz companhia, enquanto você não chega. Não é nenhuma das nossas. E ainda tem esse mundo imenso, essa saudade, e um vão inteiro sem resposta. 

Sem sentido. Seu nexo. 

Pra mim, chega o sentir dessa respiração suspensa, ofegante, e eu ali, sentindo o cheiro do sexo ainda, e me dando conta da minha única certeza: esse fucking  encontro de almas que, de tanto trazer força e direção, não me deixa achar outro caminho. Eu tô mesmo é por aqui, olhando, parada, sorrindo e chorando de quando em vez. Torcendo pra você dizer qualquer coisa que não seja esse maldito silêncio. Esse péssimo talvez.

É. Não sei.

Não me leve a mal, é que eu não tenho condições de abrir mão. Por favor, alguém terá, teremos errado? Acaso teria, teríamos sido diferentes? 

"E o que é que a gente faz com isso?". Insiste a sua pergunta.

Ah, eu juro, preferia tudo. Eu gostava muito mais da gente antes.






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