Para Lule
Coisas de melhores amigas... (para minha Lule)
“Estava à toa na vida, o meu amor me chamou, pra ver a banda passar, cantando coisas de amor...” Ah!, essa ela conhece! Seu pai vivia cantando quando ela ainda era uma menininha. Como Lory?! É. Um pouquinho depois, a gente se conheceu. Faz tanto tempo que eu nem lembro como foi. Tudo que sei é que, desde que me entendo por gente, ela está aqui. E não ali, lá longe, em outro momento, em outro Estado, em outro país. Aqui. No meu peito. No meu coração. Ela é a minha saudade de dançar “cara caramba cara caraô”; de ouvir “Eduardo e Mônica” até cansar; de cantar Geraldo Azevedo um monte de vezes também (“começo de tudo, não dá pra saber, passado ou futuro, adoro você – MENTIRA!”). Eu sei, desta última ela nem se lembra mais... E eu nem ligo pra esse seu jeito de esquecer as coisas. Já me acostumei.
Até Angélica (possas crer que é!) a gente curtia. Sabe o que é que eu mais gosto nela? Ah!... os milhares de olhares que a gente, só a gente sabe trocar. Só a gente consegue entender. É o bonito “paumbomentêmêpálábás”... Viagens de duas amigas: apaixonadas, lindas, chorosas, sofridas, arrasadas, carentes, cantantes, vaidosas, viciadas, embréagadas, (assim, com é agudo mesmo) mentirosas, verdadeiras, românticas, desiludidas, vaidosas, inteligentes, desleixadas, sujas, preguiçosas, hippies, roqueiras... Ai meu Deus! Já fomos tanta coisa juntas! Quem poderia acreditar que fomos budistas? “Na Mioho Rengue kyo, Na Mioho Rengue kyo...”. Musicistas da Kotekitai, dançarinas do Taiga. Hoje andamos meio descrentes, ora espiritualistas, ora projeciologistas, apesar de um pouco medrosas... Essa coisa de “pagar pau” pro obssessor é meio complicado (não é, Ítala?)!
E de profissão, já quisemos ser de tudo um pouco: cantoras, dançarinas, aeromoças, vendedoras de modulados, poetizas, psicólogas, bancárias, enfermeiras, mães, professoras. Filhas fugitivas! Uma, de mochila com roupinhas, casacos, utensílios de higiene, toalha de banho; a outra, com Danone, Todinho, biscoito Passatempo, chiclete, bala... Desistimos antes de chegarmos à linha do trem, ali atrás, quando o Verde Horizonte ainda era mais zona rural do que “boca quente”. Até cofre secreto no jardim a gente teve. Você já teve um? Pois é. Morra de inveja!... Só não sei o que meninas de oito e doze anos podem ter de tão secreto...
Nossos namorados costumam ciumar dessa loucura que somos juntas. Acho que, no fundo, eles ficam perdidos no meio de duas, como direi, excentricidades, delícias, ameaças constantes...
E os carnavais? Mamonas Assassinas! Casa de Josa!
Praias, meninas seminuas em topics quebradas, esperando o pai buscar no posto... E as fases musicais que dividi com ela? Ai, ai... Adriana Calcanhoto, Roupa Nova, Aerosmith: “Don’t wanna close my eyes!...; Nana Caymmi: “onde você estiver, não se esqueça de mim...”; Marisa Monte. E as mais recentes: Vander Lee – “eu queria poder te dizer sem palavras, eu queria poder te cantar sem canções...” (esse ela odeia); Djavan: “te adoro em tudo, tudo, tudo...”; Jorge Vercilo: ”coisa pequenina, centelha divina, renasceu das ciiiinzaaas!”...; “–Toca Ana Carolina! – minha garganta estranha, quando não te vejo, me vem um desejo doido de gritar”; “– toca Los! – Iaiá, se eu peco é na vontade, de ter um amor de verdadeee...”. E agora, quem diria, Chico Buarque: “Apesar de você, amanhã há de ser outro dia...”. Enfim, são tantas músicas que até me perco nas lembranças... E os reggaes? Jacuípe, Jauá, minha casa, casa de Alex 1, maluquices com Alex 2, Guarajuba, Arembepe: “Olha a lua! A lua tá lindaaaaa!”; Pimenta malagueta: “ai, ai, ai, ai, ai, ai, ai, ai, ai, ai, ai, ai, aaaaaaa aii...”. Ah, se eles falassem...
E o último virote: Dias d’Avila e, quem diria, Sorria meu bem. Há quanto tempo! Surgiram até poemas! “Noites de Antártica no balcão...” e “transando comigo, contigo, com você, com ele; só com ela”. Quase vinte e quatro horas de águas...
Enfim. Ainda bem que temos uma a outra. Ainda bem que temos toda essa história de música. Diários. Fugas. Ópios. Cartas. Distância. Lágrimas. Desenhos. Idéias. Madrugadas de conversas. Homens. Risadas. E, no meio de toda essa saudade, de toda essa lembrança, nos amamos. Muito. De um jeito só nosso, todo lindo, com cor azul (apesar de agora ela ter invocado com preto!) e gosto de Pão com queijo. Miojo. Chocolate meio amargo. Trident de canela.
Só queria entender porque, apesar de tudo isso, ela ainda diz que somos muito diferentes...
Eu te amo. Feliz aniversário.
Camaçari, 04 de setembro de 2008.
Thais, 27 anos. Lule, 24 anos.
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