Um fragmento para minha amiga Flávia Naiana

Queria ser como Flávia... Queria ter essa coisa de morrer por dentro, e rir. Ninguém vê! Tudo está maravilhoso, nada a aflige. Não há nada que não possa ser resolvido. E se não puder, realmente, fazer o quê?! Comer água e ser feliz. Tirar o peso... No final, tudo se resolve! Não há dor, pelo menos não aparente. Nunca a vi chorar. Nem de cara feia. Nem de mau humor. Quando briga, das poucas vezes que presenciei, acho que, na verdade, uma só, é rindo, ironizando, curtindo e fazendo pouco caso. E o cigarro? Ah! Aquela coisa, pra mim, tão nojenta, mas que lhe dá um ar de propriedade e segurança tão seus que faz qualquer um anti-fumante querer fumar... Todo aquele tamanho de proporções animalescas seduzem qualquer mortal, homem ou mulher, de idades distintas. E as gargalhadas? Ah! Deliciosas! Contagiantes! Me fazem esquecer de toda dor, todo sofrimento, e acreditar que é possível ser feliz. Ela não é?! Gosto muito, e, sobretudo admiro a sua inteligência, os seus gostos musicais, às vezes parecidos com os meus. Chico Buarque! Agradeço a ela (e a Vinicius) estar mergulhando agora nesse artista tão incomum e tão cheio de singularidades. Mas, o que de fato é mais delicioso nela é o impulso. O não pensar, aproveitar cada segundo, viver a vida, literalmente, de uma forma intensa. Ela é tudo o que eu não sou, mas que gostaria muito de ser. Uma mulher maravilhosa, incrivelmente madura pros seus 20 (ops!, 21!...) anos, linda, orgulhosa, senhora de si, comedora de água, sem nenhuma preocupação com as coisas sérias e chatas da vida. Será que ela sente “a mão apertando o peito”? Será que perde a noite pensando no amor que perdeu? Nas traições e armadilhas do coração? No possível mestrado? Na falta de dinheiro, de trabalho, de amor? Talvez. Porém, a maneira que ela vai encontrar pra viver essas aflições será num bar, com um copo de cerveja sempre cheio, envolto de fumaça e gargalhadas na madrugada.

E, tudo, em dois tempos, passa. E por que queria ser tanto ela agora?... Porque não estou agüentando toda essa ansiedade, essa vontade de tomar clmante pra dormir. De tentar ficar entendendo coisas que não têm mais explicação, de tão claras que estão. Vontade de sair correndo dessa “saula” (sala + jaula), que não consegue prender a minha atenção, mas que não tenho coragem de sair. Coragem?! De fazer o que quero? De não me sacrificar, de não pensar tanto no futuro? De mandá-lo pra casa do caralho? Isso, pra mim, é impossível. Possível mesmo é ligar pra ela, querer estar com ela, numa tentativa desesperada de roubar um pouquinho dessa loucura gostosa que ela é. De ficar olhando para toda a sua euforia, porque só isso já faz um bem danado...

Ela tem essa coisa de morrer de raiva e, em segundos, descobrir um jeito de fazer passar, de não sofrer por causa disso. É tipo autodefesa, imunidade, super valorização. Sei lá. Só sei que não tenho isso. Tenho é o contrário, isso sim! Tendo à dor, à diminuição, ao encolhimento gradativo e natural. À falta de ar, à dor aguda no peito. Duvido que ela fique “toda se tremendo” por algum motivo. Ah! Ela não deixaria esses tiques sintomáticos estragarem a sua paz. O seu final de semana...

Como uma pessoa consegue ficar meses sem celular e não esquentar com isso? Eu, refém, olho o meu a cada dois segundos... Já é até uma distração, um movimento autômato: olhar, ver as mensagens que já apaguei, as ligações que não recebi, e sofrer por causa de tudo isso. As músicas que já enjoei de ouvir. Ah! Mas não seria Flávia a pessoa que sofreria tanto por causa de um celular e tudo o que ele representa! Já o teria jogado pela janela! Aliás, que janela? A do carro, provavelmente, porque, com certeza, ela já estaria dirigindo a quilômetros daqui! Quem sabe estaria chegando àquela ponta da praia e pedindo mais uma cerveja, aproveitando o sol da tarde de sexta...







Thais Dultra.



12.09.2008.

Aula de mestrado – Dante – UFBA













Pois é, Flávia! Resolvi te dar, finalmente, o texto que escrevi pra você. Está na íntegra. Não mudei nada. Sei que a gente já viveu muita coisa junto, e que algumas mudaram um pouco. Eu já te vi chorar. E também já te vi chateada, triste e angustiada por vários motivos, até muito pertinentes. Mas, ainda assim, o texto não perde a sua essência, porque não mudei a visão que tenho de você: uma mulher linda, incrivelmente sensível, indefinidamente amiga e profundamente maravilhosa. A minha garota piropa, cachaceira, louca, que eu adoro, que mudou o meu jeito de ver e viver a vida... A pessoa que faz com que as coisas sejam mais leves e tenham a devida importância. Nem mais, pra não fazer a gente sofrer além da conta, nem menos, pra não deixar a gente tão largada. Eu, tão séria (será?), de repente me vejo comendo água com você, enlouquecida, tirando o peso, rindo horrores...



Feliz aniversário, amiga!



Que você seja sempre esta mulher maravilhosa!



E, agora, vou ser extremamente egoísta: nunca saia da minha vida! Se faz diferença pra você eu não sei, mas pra mim faz, e muita. Se você se for, sentirei muito a sua falta!

E aí, o reggae é aonde hoje?

E os grossaços?

Avemaria!

Eu te amo!

Vixe! Já ia me esquecendo: você é Mara! Beijos, me liga...



Thais.

17 de novembro de 2008.

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