Limpeza, ou um fragmento para a Saudade
Preciso de uma faxina na vida,
nos dias, no dia-a-dia.
Não há como partir para parte
alguma, lugar algum, então, é preciso limpar tudo. Das coisas que ficaram, me
sinto leve, às vezes. Ainda assim, justo agora, tenho que esvaziar os vãos, as
cômodas, os lustres.
Preciso me desfazer das cortinas,
das toalhas, das lembranças.
Por que a dor, se não sou Valente,
se nem era verdade, se não era pra ser? Deixa estar, quando for de tirar o
peso, o resto, me levo sem suor, sem apego, sem rancor.
Espero sim, minha amiga, mais de
mim, aí, sim, futuros de poesia e par, sonhos de maré de novo. Por enquanto,
vou indo de limpeza, tirando tralhas de sujeiras alheias. Nada disso é meu.
Espero, livre, por ti, Saudade,
isso de falta dele não é viver. Não se deve insistir, um dia ele volta, ele
chega, e tudo terá um sentido de antes, do novo, do viço. Porque de saudades
sem mágoas vem a pureza, a fé, o pensar num porvir de amores.
Vou deixar tudo um brinco, quero
que se orgulhes de mim, das páginas lançadas, dos brinquedos queimados, dos
pesadelos levados. Mas não agora. Preciso de baldes, pano de chão, vassoura. Há
que se lavar bem e fundo, não se pode deixar nada por fazer. Está tudo tão
aberto, não está? E, sujo, não fecha, não acaba, não se vai.
Ter que se ir nem sempre é bom no
hoje, mas no depois tudo se explica, tudo se refaz, tudo se arruma.
A mim, que não estou fazendo
nada, não me custa dar uma ajudinha...
Thais, 22.02.2013.
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