Sobre mim e Gilda
Ser Gilda, senhora, digna, ora, pra quê?
Ficar engolindo esses relâmpagos, essas farpas de
ferro, essa rotina tão ruim?!
Cansada de pernas firmes que mal se aguentam em pé.
Não passo de uma mentira, uma ilusão, um sopro de
poesia. Nem fingir sei.
Que se vão os bailes, todos, porque eu não sei
dançar cordas e liras de felicidade. A diferença está no não-sonho. No não-sono.
Veja bem: pesadelo é outra coisa, mas é preciso
receio dos olhos fechados. E o medo é esperança de sonhos bons.
O que eu sinto só vejo quando abertos os olhos,
aberto o peito, abertas as chagas. Velhas, novas, pueris. Tudo dói.
Não vejo porque ser Gilda. Gilda é saudade
transbordante, olhar pequeno, brilho de madrugadas matinais. Sofria, bem se
sabe, mas sonhava. Seu coração acredita no amor do ainda.
O meu, no ainda das mágoas. Não me olhe agora.
De olhos abertos, nada de amores tenho a dizer.
Choro, às vezes.
De tristeza também se canta um amor indigno, insano
e infame.
Amém.
Thais, jan 2013.
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