A noite

E eu sigo, por mais uma noite, uma madrugada a mais, sem conseguir dormir. São inumeráveis muriçocas, incontáveis calores, incompreensíveis angústias. Insustentáveis saudades.

Como poderei eu, num dia comum, num dia de repetições, modelos e lutas, não me ver um zumbi? É fato. Haverá um soluço no meio, pois que, quando não se contam os sonhos, faltam as poses, esvaem-se os risos, fica o cansaço. E já faz tempo, há tanto venho e vou assim, tentando, de repelente, trazer novos jeitos, frescas noites, ombros de acolher, luas de guardar. 

Nada.

Continuo alérgica a mosquitos, mas não os odeio. Eles estão nos seus lugares, o meu movimento é que é alheio. Minha saudade é abstrata, meu medo é pluriexistencial. Mais de um, entulham-se, neblinas após neblinas quentes. Suores de intensidades várias, de espessuras adulteradas.

Na honra de hora magnetizada e nostálgica, preciso acordar.

De onde, se já nem tento? Por que, se não consigo? Devo pensar num acordo, isso de alumiares de sol hão de me enlouquecer.

Acaso verei noite onde houver trânsito, semáforos e malabarismos? Não sei.

Devaneei um pouco, uns pruridos insistentes me chateiam o tempo todo. Que coçar abusado, que irritância ímpar! Quero noites de pares, estou precisada de sossego, mas não, ave, que eu não aguento esses zumbidos! Crash, crash, crash, de unha e pele, nos engalfinhamos.

De insônia e cochilos, sigo na trajetória madrigal. Me assopra, não roda, olha a luz! Onde a água? Banheiros, infinitas vezes de descargas sonolentas. Despertei, pronto. Sento na cama, bocejo, esperneio. Quero dormir! 

Nada.

Amanhecendo... vou caindo, pesar de olhos, sorriso leve, penso no amor, esqueço do sofrer.

Mas qual: já é hora! É tarde! Pula, lava, seca, veste, calça, engole, separa, pega, dirige, sai.

Corre!!!

Bom dia o caralho! Aaaaaaaaaaaah, cadê meu lençol, jesus?! snif, snif...
Não posso fazer bico. Não tenho humanidades. Não peça quereres.

De café em café, de sorriso em sorriso, de cochilo e aulas também se faz uma mulher labuta.

Puta.

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