Oficina
O meu desconcerto não se vê no mapa, não se pode descrever, escrever,
ler. O meu conflito e a minha confusão são meus, mas estavam ali, está tudo
aqui. Eu estava inteira.
Pude ver cada cor, cada gota, todo o suor do meu desbancado olhar ao te
ver.
Ah, você...
E eu quis te dizer de tudo isso, do nada que nos separa, do ontem de tão
perto, dos indizíveis tão distantes! E eu que sempre fui tão sua, que sempre
soube o que dizer, só queria saber um pouco mais da sua rotina, ouvir muito
sobre banalidades do dia-a-dia, trivialidades que só os ouvidos saberiam
entender o porquê de soarem tão bem.
Nesse hoje, há toda uma conspiração em mim. Mãos que não se controlam,
mente e coração em conflito. A hora é de recuo, ponderações, voltas, idas de
vidas alheias e distantes. Educação, riso polido, bons modos. Aprendi a ser boa
nisso, às vezes. Mas não com você. Não agora.
De saudade e de expectativas também se planejam os futuros, também se
sonham os dias, também se especulam os amanhãs, sabia? E eu nunca pensei que
fosse te achar tão bonito, tão obviamente jovial, tão espontaneamente deslumbrável aos meus olhos! Acho que deslumbrada estava eu, diante da minha
inutilidade patética de emoções, meu amor transbordando a cada bebida, colher,
café, água e suspiros.
Engraçado... esse desconcertar é cheio de defeitos, cheio
de falas, de falhas, mas não se pode consertar, trocar as peças, mudar de
lugar, retocar a maquiagem, enxugar as lágrimas, estancar o riso de canto.
Apenas é, apenas cabe no nosso contexto.
Que texto caberia?! Acho que, apesar dessa oficina não poder nos ajudar, e dessa música ter me vindo à tona tão rápido, você, que sempre será meu
bem, é todo o meu mal, pois me vou afogada, estou náufraga, tudo que sou se
esvai em ti.
E é isso. Todos veem, absurdo e ridículo qualquer disfarce, desnecessário
inventar qualquer máscara, incabível qualquer desculpa.
Não nego, então. Do amor, ainda há. No sempre, com todo amor, sigo em
mim. Como num filme, como nos meus fragmentos, toda nos meus sonhos, me vou. E
em tudo que é meu, tudo o que sou, transbordo em ti.
Te desejo um bom sonho, uma boa vida, uma boa rotina, cheia de novidades
felizes.
Te desejo um futuro de encontros e desencontros e de consertos e
desconcertos comigo.
Como vai? Até um dia, então. Até talvez, quem sabe?
Eu? Não sei de nada...
Gilda, 11/03/13.
Até não transbordas mais! Será que algum dia você vai viver sem ser de excessos? Também não sei...
ResponderExcluirSe for necessário viver de excessos? Por enquanto é pelo menos confortável...
ResponderExcluirLindo fragmento!
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