ACHARES


Sabe o que eu acho?

Eu consigo conviver com isso por muito tempo.

Isso de faltar o ar ao ver o seu perfume sutil por entre os meus pés colados, imóveis e ímpares.

Eu consigo sobreviver a dias e dias e vazios de fome sem você.

Essa casa, tão grande, cheia de sombras e vultos, todos seus, a rir e a praguejar um futuro triste e sem paz.

Eu?

Ah, posso acordar no meio da noite, por todas as vidas que acordei sem ti, suando e chorando o medo de não mais ser lembrada em versos que jamais serão meus de novo.

Posso ser, cantar outra música, outra doçura de um prazer inato e sutil, tão inerente a nós, e ao que teremos sido um dia.

Deus sabe, prova cabal e fiel, de que poderei caminhar por mim só, trôpegas pernas, ainda que seja por um motivo frustrante e sem natureza alguma, por tanto e tanto tempo...

Sim, subirei ao altar, ainda que seja um altar triste e sem ti. Mas vou.

Posso me ver entre as nossas paredes, jornais, imagens, sorrisos e rabugentices pirracentas, que, de tão insuportáveis, me fazem chorar a cada ausência patética e  ridícula sua.

Farei de tudo uma incrível relutância, inegável impaciência, lamentável esquecimento; nunca mais mencionarei o seu nome, nem contarei, vergonha, a ninguém, dos meus insistentes sonhos de amores em ti.

Eu posso tudo.

Mas você, ah, você não pode, jamais poderá nada!

Jamais lembrará de mim com tamanha perda, tamanho ardor, todo sentimento, nem verá, sequer, essa saudade.

Saudade?!

Quem sou eu, no meio de toda a sua burrice impossível e inacreditável incapacidade de amar?

Pra você, eu sou um equívoco,
Um desleixo,
Uma mágoa,
Um mau passado.

Passou.

Mas tu, meu caro,
Meu caríssimo idiota
Foi e sempre será um arranhão filho da puta
Um profundo lapso, um saudoso canto de bem querer
Que de tão doído
não cicatriza, não cala, não vai.

Em mim, você sempre será
A minha mais constante
Insistente e repetida
Busca imbecil
e arrogante
pelo amor.

Gilda.

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