BALANÇO


Saudade do tempo em que eu te dizia orações, todos os dias, antes de dormir, ao longe. 

Você não se ia.

Por mais que eu te ame, por mais que eu te deseje e sinta a sua falta, meu amor é outro. Jamais serei a mesma.

Você levou meu melhor tempo, meu maior sonho, meu futuro de planos. Hoje, tudo que tenho é prático, tudo que vejo se conta. Prós e contras. Não caibo mais em balança desigual. O tempo dos amores se foi. 

Caio na real: você jamais será meu de novo. Poxa... mas sonhar você era tão bom! Que vida tenho? De que viveremos? De caminhadas duras e de cinzas. E não se pode lamentar, tampouco há o que agradecer por isso. Apenas foi, passou, perdemos o barco, pegamos um navio. Ou foram aviões, de tão rápidos? Mal vi o caminho, nem sei da viagem!

Se pudesse, recuava, te roubava, descíamos juntos, em pleno voo. Não perdia a sua mão. Nunca tive coragem pra ultraleve, asadelta, paraquedas. Preferia que estivéssemos quebrados. Ainda dói! 

Defeitos irreparáveis, trocas intransferíveis.

Cada um buscou o seu conserto, em construções separadas. Vou capengando, tragam minhas muletas. 

Lembranças de um só, eu sei, meu amor. Já acalmou, tá brando agora. Assoprou tanto que latejou, mas parou. Sarar, não sara. Estanca ou ainda mina?

Desculpa, não soube ser pra ti. E tu, acaso, soube ser pra mim? Não vimos. Nem achamos coisa alguma. 
Se esse amar de hoje encantasse... se contasse... 

Toma! Sou eu, de qualquer tempo, o seu presente!... atribua a cara que quiser, me pinte, desdenhe, e jogue fora, ou guarde pra outro dia. Use um pouco. Bobagem! Embrulho tão mal feito, tsc, tsc... nem camarão, moqueca ou caranguejo ajudariam. Tudo junto. Traz o mar. Eu pago! Inútil... Eu, minha esperança ou a insistência?

Resistência. 

Saudade até da sua ridícula teimosia. Você bem que avisou, mas, de que adiantou ver, se veio junto com um adeus? Demos certo? Cadê o erro? 

Marcando passo? Eu?

Não, não mais.

Só a outra. 

A que sonha. 

Hora de cuidar. Trabalhar. 

Essas coisas de ti ainda me vêm aos borbotões. Vez em quando, serena. Ventanias, sigo as marés. Nem tenho mais luas. 

Em tempos de construção não cabem esses vãos. 

Operação tapa-buraco. Tapa-feridas.

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