O MURO

Putaria de vida, isso de merdas e escolhas. Sabe, esse andar em círculos já me encheu, já deu. Não quero mais me sentir assim, meeira, meio lá, meio cá. Não vê que não estou em lugar algum?! Já é hora! Anda! Hora de cortar, radicalizar, parar de cair, de recair.

Senão... não passa. Volta. E hoje eu me vejo nessa angústia voraz, com medo e tudo, sem luz e nada, minha respiração mal sai. Peço o ponto.

Eu fico na próxima rua, naquela esquina, diante do meu muro labiríntico, anedótico, dual, cinza. Estará roto? Apois. Nessas horas, as cores se esvaem.

Hora de que, doutora? Dia de monte, mês de anos, minuto de lágrima. Suspende! Engole! Já é hora!
O murro nem dói, nem sei se bati de novo. Eu nem caí! Eu andei? Por onde fui dessa vez?! Que lugar é esse?

Acordo. Me vejo, sou um se, de frente, olhando pro alto. Dou um pulo, trepadeiro, busco uma nova sacada. A próxima vai longe... há de vir, antes, a droga de cura.

Doído, sem sabotagem, cheio de necessidade e ânsia; assim, evita-se o senão de errar de novo. Quero tudo: missa de um, dois, três, sétimo dia. Um mês, um aniversário, uma novela, aquele seriado. Se precisar, queimo as toalhas, dou nadas, pego de volta os sonhos, e tudo o mais.

Quem diria que essa merda conseguiria colar, perdeu. Eu poderia ver melhor no agora. Mas não. Vejo o muro de novo.

Não há dias para românticas e otimistas. É tempo de olhar sem voos. Nem sei: queres um velho erro ou uma nova perda? Um amor de recalque ou um affair de verão? Uma nova bebida ou mais uma moldura?

As pessoas e pessoas são todas marginais. Desleais. Só querem saber das máscaras. Mas, do que me queixo? Eu as dei! São minhas, então? Não... elas tomaram partido. 

Só eu continuei olhando, perdendo o viço. O que há além? Quantos lados? Esse X não se encaixa, nem tente. Vê? Só peso, só cansar, só penar. It's too much!

Não sei ser um, nem sei ser o outro: que é de profundidade, dedicação, renúncia? Quem disse que pode essa música, esse calor, esse licor? Não se pode nada. Se deve tudo. É o tempo. E, mais ainda: saiam com essas de inteligência, independentes, maturidade, feminismo, boemia... Não dá. Não dá. Há um mau proveito; há quem dê, mas não há quem mereça!

Esse muro, dividindo tudo. Nenhuma de nós agradou, não é? Nem a que era, nem a que deveria ser. No final, elas estavam em cima. Não se pode estar lá e aqui, ou cá e ali. É preciso provar que se sabe decidir. Prova de amor é renúncia, não é? Aceitar como se é não prova nada, porque ninguém dá. Nunca uma água custou tanto, meu Deus! Sou eu que pago. Me diz: quanto é? Tudo isso?? Tão caro... Eu que dou, eu que exijo, ou você que dá, que recebe?

Afinal, sou anormal, marginal, ou perdi o tempo de “encontrar pessoas"?

Vou pensando. Vai passando... Senta aqui comigo, vê a vista, olha pr’aquele lado! Há uma família ali! João, Maria, e missas aos domingos. Não? Ah... mas daquele lado podes ver aquela moça... tão autônoma, tão livre, e sua, em si! É sábado! Tem viola! Fragmentos! Mas... coitada, não serve pra ninguém. Ninguém a serve. Não se vai feliz também.

Vejo tudo, daqui, mas não escolho nada. Sofro às vezes: não tenho, e não posso ser. Jamais conseguirei seguir pra outro ou pra um. Pra todos os lados, dói. Todos os dias.


Gilda.

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