Dias daqueles

Há dias e dias.

Dias em que me vejo alegria, pomba multicor, a buscar água e comida em pratos alheios. Aí, leveza e paz me invadem. E vão além, muito além das asas puras e brancas do cortejo nos ares.

Dias abóboras. Sol morno, em que pouso ver o vento, sem ida nem vinda. Ali, apenas. Calmaria em dias de maré baixa. Nesses, sou peixe-pena, nadando a esmo, em mim.

Há os dias de granizo. Em tudo vejo cinza e breu; cores sóbrias, marrons tons tristeza, torrentes de cachoeira, pé d’água. Nesses, nem guarda-chuvas me servem. Ruins dias, ruins difíceis. Sou vira-lata molhado: sem abrigo, sem comida, sem amor. Ilhado em si.

Dias de sertão. Amarelo-ouro, poeira e cachaça. Nesses, vejo carcaça velha e depenada. Nem carcará suporta tanta fogueira e fel. Não há, no céu, indícios de água. Sou burrego tísico, faminto. Só mato seco e sol. Só.

E há os últimos. Dias como o de hoje. Música e poesia trazem o choro. E a irritação de humores maus. Há goteiras no banheiro, topada no dedão, cara feia, muxoxo e choro de canto de olho. Dia sem cor. De arrependimento e mágoa. Unha no coração apertado. Calado, sem ar. Sou bicho de pé, formiga desalinhada, inseto agonizante de inseticida barato. Dia chato.

E nessa profusão de dias me vou, ora vento, ora sertão, brisa, chuva ou mar. Misturo-me em coisas e bichos, tempos e cores. Rumores de amores, lembranças e vontades. À espera de um dia em que me veja, plenitude, felicidade.

Por ora... só saudade.

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