Fragmento de pergunta Ou Sobre a quarta-feira de cinzas

Engraçado...

Eu achava que tudo seria diferente, que haveria uma felicidade frenética, após quaisquer dias de muitos carnavais. Tudo deveria ter sido esquecido.

E nada foi pouco!

Foi tanta busca de esperança, de cantigas e cores, e eu vi tantos azuis, tantos quereres...

De todas as brincadeiras, eu me vi em meio a picos de emoções, de sabores e de tantas vontades. Foi tudo lindo! Se viu um frenesi alegre, biquínis prateados, furta-cores, meios peitos de fora, um fio-dental para cada tipo de shorts e pernas. Gentes pelo chão, e, todos dormem, menos eu! Tatuagens à mostra, um quê de otimismo sem fim. Muitos brindes, cervejas para todas as cores e preços, boa música, algum samba, MPB nos táxis e sobras de diversão. E beijos, de todos os tipos, gentes e tamanhos, para todos os gostos e tradições.

Em meio a esses hits novos, sentimentos explícitos, tradições comemorativas e colares de ruas entupidas de branco, das mortes atirando a metralhadoras de brinquedo, a olho nu, não se vê o do lado de dentro, as dores e amores de cada um.

E pra quê mostrar, pra que fingir que a dor é alegre?

Sim, foram passados muitos recibos. E, sim, se pagou um quinhão, mas, então, por que ainda há tanto sabão nesses olhos? Tanta saudade n’alma, todo esse maldito desamor?

Mesmo com toda euforia, com toda lama, risadas e sentires, em cada um havia uma rouquidão, um grito contido. Uma lágrima. Alguma saudade vã.

A minha voz sumiu. Eu não podia, não posso, amor, te dizer de nada disso.
Escondo tudo. E eu estou surda, pois que não consigo ouvir o tanto que queria que viesse de você. De que valeria?

Sabe, Vinícius é que está certo. Haja tristeza para tanto samba! E é da saudade e do amor de onde saem as melhores almas, os mais lindos poemas, as mais eficazes e perenes cicatrizes.

So, let’s live! It’s alright, isn’t it?

Que venham os próximos lepo lepos, quicadas nos calcanhares, esquemas vídeo game, muito você, o amor e eu, muitos cinquenta centavos de sol, de voz, de siris, feijões e marés.

Que todos desatinem de novo, que seja tudo fake, que se acabem as fantasias, que as rotinas dos dias voltem. Mas que os amores e os sambas nunca faltem.

E para os desamores, que não me faltem os Chicos, os Vinícius, as orações, as cervejas, os fragmentos.

Tudo igual. Sem game over.


Gilda, 07.03.2014.

Comentários

  1. Já vi e revi. Não consigo parar de ler esse texto. Diz tanto de mim. Fantástico!

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  2. Também não consigo parar de ler. Sou dessas com os fragmentos novos. Filho novo, rsrs... Obrigada, Betty Boop! ;)

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  3. " ...pra que fingir que a dor é alegre...' ,massa o texto,Thai! Este é um dos legados que o verão nos deixa .Uma reunião de sentimentos confusos,inquietantes. =)

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  4. Que bom que gostou, Tati, minha flor! Mas foi exatamente assim que me senti no pós-carnaval: confusa e inquieta, rsrsrs... Venha sempre aqui! Beijos!

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    1. Venho sempre,embora não comente.Fico apaixonada por cada linha,cada coisinha. Vc escreve,descreve,e a gente se identifica.Amo! =)

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